Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

As dez línguas de Portugal

Há quem encontre 10 línguas em Portugal. Será um exagero?

Quantas línguas há no mundo?

É provável que seja uma surpresa para muitos, mas os linguistas não se entendem sobre o que responder à pergunta: «Quantas línguas existem no mundo?»

Na cabeça de muitas pessoas, a coisa parece simples: cada país tem uma língua, com uma ou outra excepção que pouco importa, e por isso basta contar os países.

A verdade é que as excepções são tantas que o difícil é encontrar um país que siga essa suposta regra.

Por exemplo, na Europa, parece-me que só a Islândia é um país que só fala uma língua, língua essa que é exclusiva desse mesmo país. Tudo o mais são misturas, remendos e falares a cavalgar fronteiras.

Bem: não vamos discutir a questão a fundo, que estamos no fim do ano e há outras coisas em que pensar.

Mas podemos, só para nos despedirmos de 2015 neste blogue, olhar para as línguas de Portugal. É um país que muitos apontam como um exemplo de monolinguismo, em contraste, por exemplo, com Espanha, esse caldo de línguas e nomes de línguas.

A verdade é que, mesmo se usarmos o mais apertado dos critérios para contar línguas, em Portugal temos duas línguas nativas: o português e o mirandês, que é reconhecido oficialmente desde há uns anos.

Ora, mesmo as fronteiras destas duas línguas são difíceis de definir: será que o português e o galego são a mesma língua? Será que o mirandês é apenas uma variedade duma língua maior (o leonês — ou asturiano)?

Perante estas complexidades, podemos optar por ser brutalistas: isso não interessa nada e o que eu digo é que é.

Se formos por aí — como muita gente vai — nem o mirandês interessa. É um dialecto do português, ponto final. Catalão? Manias pós-modernas. Galego? Espanhol um bocado aportuguesado. Basco? Grunhidos que ninguém entende.

Ah, a beleza do mundo visto à bruta…

A quem assim pensa, digo, com um sorriso: «Olhe que não, olhe que não…»

Do lado oposto estão aqueles que encontram línguas debaixo de qualquer pedra.

O Ethnologue, um catálogo de línguas muito interessante, parece estar mais perto destes últimos que do lado dos brutos. E ainda bem — embora às vezes exagerem um pouco.

Senão, vejam bem: o site encontra dez (!) línguas em Portugal! (E nem sequer incluíram o inglês algarvio.)

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Sem mais delongas, apresento-vos as 10 línguas do nosso país (que muitos ainda acham ser um país de um só idioma):

  1. Português. Ah, a nossa língua, a última flor do Lácio, nas palavras de Olavo Bilac (não, não estou a falar do cantor — e, já agora, essa de ser a última não é bem assim). Já falámos muito da formosa língua portuguesa neste blogue e, por isso, não vale a pena bater agora nesta tecla. Só duas notas: é oficial há muito tempo (embora não há tanto tempo como se pensa) e há quem lhe chame galego — mas essas provocações ficam para outro dia.
  2. Língua Gestual Portuguesa. Não me venham com os argumentos brutalistas de que isto não é uma língua ou, então, que é português, mas em gestos. Não! É uma língua a sério e nem sequer tem muito a ver com o nosso português oral. Por exemplo, enquanto portugueses e brasileiros se entendem em português (tem dias), os surdos brasileiros usam uma língua gestual muito diferente. Da mesma forma, a língua gestual portuguesa pouco tem a ver com a espanhola — se quisermos entender isto doutra maneira, não se pode dizer que seja uma língua latina. As relações entre as línguas gestuais são outras e cada uma tem um vocabulário, uma gramática e ainda regionalismos e ainda dicionários e normas. Pasmem agora: esta língua é referida pelo nome na nossa constituição (algo que nem o mirandês consegue).
  3. Mirandês, essa língua falada por uns quantos milhares de pessoas ali, num canto do país… Sei que há muitos que não percebem para que serve preservar à força um falar antigo e, segundo eles, inútil, mas, já agora, conto-vos uma história: há uns anos, passou pelas minhas mãos um projecto de tradução de inglês para mirandês pedido por um cliente japonês. O mundo é estranho. E sabiam que podemos ler Pessoa em mirandês?
  4. Cabo-verdiano (ou «kabuverdianu»). Um dos filhos do português (e por isso digo que a nossa língua já não pode ser considerada a última flor do Lácio). No dia-a-dia, chamamos-lhe crioulo (que, no fundo, não é o nome da língua, mas antes o tipo de língua). O cabo-verdiano tem regras como qualquer língua, vocabulário próprio e que já começa a ter alguns dicionários e gramáticas — no entanto, ainda não é oficial em Cabo Verde. Em Portugal, é falado por imigrantes e portugueses de origem cabo-verdiana. (Diz o Ethnologue que o número de falantes em Portugal chega a 200 000 pessoas. Não confirmo nem desminto.)
  5. Barranquenho. Este falar alentejano, ali espetado quase no meio da Andaluzia, até já foi estudado por um grande linguista: José Leite de Vasconcelos. Por isso, respeitinho. Enfim, muitos associam a terra a confusões tauromáquicas, mas, como vemos, é também um município com uma língua própria (não se arrepiem de lhe chamar isso mesmo). Confesso que eu, a fazer esta lista, não incluiria o barranquenho, pelo menos assim à primeira vista. Mas quem sou eu?
  6. Minderico. Esta é uma língua curiosa, falada ali no meio da Serra de Aire e Candeeiros. Começou como código secreto para que comerciantes comunicassem sem que ninguém percebesse. Com o andar dos anos, transformou-se num falar usado por muita gente, em todos os contextos sociais, nessas comunidades serranas. Muitos acharão um excesso para lá do razoável incluir este falar numa lista de línguas. Mas noto que está no Ethnologue e que até tem um código ISO próprio.
  7. Caló português. Esta é a língua de muitos ciganos, que terá uma base portuguesa e muito vocabulário proveniente do romani. Segundo o Ethnologue, é falada por umas 5000 pessoas, em Portugal, e está relacionada intimamente com o caló espanhol, o caló brasileiro, o caló catalão, e por aí fora.
  8. Romani. Esta é a língua indo-iraniana de muitos ciganos europeus. Se a maior parte dos ciganos portugueses falarão em caló (quando não estão a falar em português, claro está), diz o Ethnologue que há umas 500 pessoas a falar romani em Portugal. Ou seja: temos portugueses que falam uma língua aparentada com o persa. Curioso, não é?
  9. Galego. Prova de que a divisão entre o galego e o português tem muito que se lhe diga, o Ethnologue acha que há zonas de Portugal, ali encostadas à fronteira, que falam galego. Não sei o que lhes diga, embora compreenda a indecisão: a fronteira linguística entre Portugal e a Galiza é muito porosa. Muito mais do que alguns portugueses imaginam. Olhando para o mapa do site (acima), parece que o português transmontano é considerado galego, sem mais. Não sei se será prudente dizer isto a algum falante do galego transmontano, mas tudo bem.
  10. Asturiano. Da mesma forma, também não sei por que razão o Ethnologue põe o asturiano como língua de Portugal. Afinal, o asturiano tem um nome próprio por estas bandas: é o mirandês e ninguém se chateia com isso. Será que consideram um dos dialectos do mirandês como «mirandês padrão» e outro — talvez o sendinense? — como asturiano? Sim, meus caros: o mirandês tem vários dialectos. E esta, hein?

Há línguas piores do que outras?

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Olhando para a lista acima, que diferença entre as primeiras e as últimas, não é?

O português é uma língua internacional, oficial em vários países e plasmada em séculos de literatura e de codificação em gramáticas e dicionários. Já o português gestual é uma língua reconhecida pela constituição.

Descemos a lista e temos o romani, uma língua falada por poucas centenas de nómadas, e o sendinense, um dialecto de uma língua que muitos acham ser ela própria um dialecto.

Mas, ao contrário do que pensam algumas pessoas, tanto as primeiras como as últimas podem ser considerados línguas completas e podem expressar todas as experiências do ser humano.

A diferença de valor entre todas estas línguas não está na qualidade intrínseca do próprio idioma, mas no prestígio, no reconhecimento oficial e no seu uso. Claro que a falta do uso leva a um vocabulário mais pobre, mas isso resolve-se rapidamente. A estrutura da língua em si, essa, não limita ninguém e pode ser tão complexa e rica no português como no romani — ou no sendinense. Da mesma forma, podemos falar de forma atrapalhada, obscura e cheia de hesitações em português ou em minderico — e podemos ser claros e directos em qualquer uma destas línguas.

Não quer isto dizer que seja igual aprender sendinense ou aprender português: se eu dissesse tal coisa, seria bom que me dessem uma martelada na cabeça (com um martelo do S. João, para não aleijar). O que digo é só isto: o valor de cada língua vem do uso social dessa língua, do número de falantes com quem podemos conversar, dos livros que podemos ler, da relação emocional que estabelecemos com essa língua (já vimos por este blogue que a língua também é forma de marcar a identidade) — e por aí fora. O valor da língua não está nas características dessa língua.

Digo isto porque há quem julgue haver línguas mais limitadas, diria mesmo defeituosas, que não permitem expressar tudo o que uma pessoa pode querer expressar. Ora, isso é um mito: os limites de quem fala e escreve estão na experiência, no talento e na memória de cada pessoa e não na língua que fala.

Tudo para vos dizer que todas estas línguas podiam, quisesse o acaso e a história do mundo, transformar-se em grandes línguas internacionais e de cultura. Não é impossível que o minderico venha a ser a grande língua de comunicação do mundo inteiro daqui a uns 300 anos. É mais improvável do que eu ganhar o Euromilhões cem vezes seguidas, mas não é impossível.

Reparem: o inglês, a língua de maior prestígio a nível mundial, passou por séculos em que era desprezado por qualquer pessoa que quisesse ser alguém na vida — os nobres falam francês normando e essa era a língua de valor.

Também o português, como temos visto, já foi um falar rústico duma região remota.

Não basta olhar para uma língua para saber o que o futuro lhe reserva. Não há línguas melhores ou piores: há, sim, línguas com mais ou menos sorte — ou com falantes mais ou menos teimosos.

Uma versão revista deste artigo foi publicada no livro Doze Segredos da Língua Portuguesa.
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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

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71 comentários
  • E falta referir o quadrazenho, misto de português, espanhol, francês e calão regional, dialecto usado pelos contrabandistas de Quadrazais, no Século passado, mas de que há registos desde o reinado de D. Pedro IV, e que ainda hoje a população mais velha dessa aldeia arraiana do Conselho do Sabugal, Guarda, sabe falar.
    No entanto, talvez não se possa considerar uma língua, podendo ser considerado apenas um dialecto ou gíria, como o calão dos bairros de Lisboa, só que muito mais elaborado.

    • Os meus avós ainda falam quadrazenho. 🙂 Não lhe chamaria dialecto, parece-me mais linguagem em código.

    • Neste texto há uma confusão tremenda entre línguas, dialetos (ou variantes dialetais) e gírias ou socioletos.
      Assim, o português e o mirandês são línguas, sendo esta última um enclave linguístico do antigo leonês; o barranquenho, o riodonorês e o guadramilês são dialetos e o minderico e o caló são gírias ou socioletos. O cabo-verdiano é evidentemente um crioulo de base portuguesa.

      • Cara Helena, não há confusão nenhuma, se ler bem o texto, verá que o mesmo explica que a questão é complexa e não recolhe unanimidade entre os linguistas. O minderico começou como gíria e hoje pode ser considerado uma língua, segundo alguns linguistas. Já o cabo-verdiano é um crioulo, claro, mas não deixa de ser língua (até o inglês pode ser considerado crioulo, segundo muitos). Quanto ao barranquenho, também não o considero língua, mas limitei-me a seguir o critério do Ethnologue, como explico também no texto. Não há nenhuma confusão tremenda — há apenas o reconhecimento de que esta questão é menos simples do que pensamos. Há anos e anos que leio tudo e mais alguma coisa sobre estas questões e estou longe de ter as certezas tremendas que a Helena parece ter. Obrigado pelo comentário, de qualquer forma. Espero que goste do resto do blogue 🙂

      • Não é crioulo embora se chame assim. Crioulo é uma mistura de uma língua com outra. Ora no “crioulo” cabo verdiano, essa segunda língua NÃO EXISTE. É por isso um dialecto do português, quiçá o maior.

        • Essa mistura existe sim! Entre o português e línguas africanas. O crioulo NÃO é um dialeto do PT.

      • Estava a responder ao deselegante e mal informado artigo que tudo confunde e onde se chama bruto a quem o desdiga, mas ao encontrar a boa resposta de Helena Garvão, desisti daquela minha resposta é faço minhas as suas palavras. Pelo entendimento do articulista, todos os falares seriam línguas, o que nos levaria a concluir que em Portugal temos mais de 10 milhões de línguas, mesmo sem contar com os miados dos gatos e os latidos dos cães ou as brincadeiras dos miúdos de falar em efes ou falar em pês. Cansa ter de responder a desinformações e absurdos. É uma lástima não se praticar a língua de estar calado quando nada temos para dizer.

        • A Helena Garvão depois acabou por concordar comigo. Mas leu o texto? Percebeu que não defendo que estes 10 falares são línguas? Onde está a deselegância? Onde está a falta de informação? Se vir bem, o artigo explica que a noção de língua é muito complexa e não convém cair em argumentos brutalistas. Parece-me que se há aqui deselegância será no seu comentário, que parece ter sido feito sem ler o artigo com atenção.

        • Já agora, eu não chamo bruto a quem me desdiga, digo apenas que considerar estas questões sem pensar um pouco (dizendo que apenas o português pode ser língua porque sim) é um tipo de pensamento brutalista, ou seja, que não olha para a realidade das línguas com o mínimo de respeito. Quanto à deselegância, nem tinha reparado na sua última frase, excelente exemplo da dita.

        • Já agora, fiquei com curiosidade. Como lhe disse, não concordo com a designação de “língua” para todos estes falares. Mas há vários em que a designação é linguisticamente correcta: o mirandês, a língua gestual portuguesa, etc. Sabe indicar-me em que ponto do texto transmiti alguma desinformação ou erro? Podemos discutir em concreto, em vez de nos ficarmos no seu comentário geral, cansado, que nada diz de relevante. Seja como for, é claro que não considero que estas 10 designações têm o mesmo valor — nem me passaria pela cabeça pôr em causa o valor do português como a língua oficial do país. Apesar da sua atitude estranha, apresento os meus melhores cumprimentos e espero que volte.

        • E já agora, para que fique claro, não chamei “bruto” a ninguém. Chamei de “pensamento à bruta” àquela ideia de que só o português pode ser considerado língua. Não houve qualquer tipo de ataque pessoal, mas sim uma crítica à tendência para falar sem pensar no que toca às línguas.

          • O que diga que o Marco Neves é uma pessoa deselegante ou pouco informada, essa pessoa nem conhece o Marco Neves, nem sabe o que é a elegância nem estar bem informado. E precisamente por tomar o Marco Neves como exemplo de elegância, não vou a dizer o que estou a pensar de quem nesses termos se pronúncia.

  • Non me sembra que o portugués sexa a derradeira flor do Lacio porque non é fillo do latin senón do galego

    • Pois, como já dissemos por aqui algumas vezes 😉 Enfim, mesmo sendo neto, pode ser chamado de flor. O poema (de Bilac) vale a pena.

      • O poema do Bilac, parece-me bastante infeliz.
        “Desconhecida e obscura”, “inculta” – sê-lo-ia quanto qualquer romanço, etc. aplicado a uma lingua que produziu uma das grandes obras literárias mundiais “Os Lusíadas”, além de grandes obras de historiografia (Fernão Lopes) ou a poesia requintadíssima das cantigas de amor e amigo ou, masi tarde, a poesia do cancioneiro parece-me que apenas atesta a ignorância de Bilac.

        • Não me parece que uma leitura superficial faça justiça ao poeta. Afinal, estamos a falar dum dos maiores poetas da língua: Olavo Bilac, que morreu em 1918 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac). O poeta não era, de todo, ignorante da tradição literária da nossa língua e o seu poema sobre o português é considerado um dos símbolos da nossa língua. Quanto ao “inculta e bela”, lembremo-nos que a nossa língua, como todas, nasceu entre quem não sabia ler ou escrever — não me parece descabido chamá-la de inculta e bela: há aqui a ambivalência que tantos poetas usam. Digo eu, que ainda há pouco tempo chamei a língua de bastarda: https://certaspalavrasnet.wpcomstaging.com/falamos-lingua-bastarda/

          • Bilac tinha defeitos – na poesia e no caráter -, mas a ignorância não era um deles.
            Penso (talvez me engane) que, chamando “inculto” o Português, o que ele mostra sem dizer é a idolatria de muitos intelectuais brasileiros (e de outras paragens mais) pela língua e cultura francesas.

          • Este poema sempre me encabulou, principalmente, o inculta adjetivando a nossa língua pátria. Depois, pensando bem, imaginando como pensam os poetas, talvez o inculta se refira a uma flor – a última do Lácio – que não foi cultivada, mas nasceu espontaneamente, ou seja, é uma flor nativa, bela e nasceu do Lácio. Terminando com Bilac, é a língua em que aprendi a falar “mãe”. Para quem não sabe, Bilac é o autor da letra do nosso Hino à Bandeira. É inspiradíssimo. Diz, por exemplo, que “contemplando teu vulto sagrado, compreendemos o nosso valor, paira sempre sagrada bandeira, pavilhão da justiça e do amor!”.

      • Mas o galaico-português só pode receber esse nome depois de nascer Portugal. Antes de existir Portugal já a Galiza existia e falava galego medieval

    • Já temos a mania imperial de subordinação do português ao galego, como se os habitantes ao Sul do Minho não tivessem desenvolvido a sua língua, e pudessem influenciar as línguas a Norte do Minho.
      Onde colocam o bable?

  • Perante toda esta complexidade e opiniões divergentes, uma coisa é certa. Cada país precisa, e tem, por uma questão prática, de um idioma oficial, alguns poucos terão dois e até três, sendo no entanto, de forma geral, circunscritos regionalmente, como o caso do Canadá que tem a região inglesa e a região francesa.

    Em Portugal existe um idioma oficial, o português. Outra questão que eu considero pertinente é a redundância de se referir “português de Portugal” ou “português europeu”. Existe o português e existem as suas variantes, nomeadamente o português do Brasil, Tal como existe o inglês e o inglês dos EUA.

    É este português que tem vindo a ser brutal e ditatorialmente atacado. É este português que diariamente está a ser esfarrapado no ensino em Portugal, ensinando os educandos a escrever errado. É este português correcto que está a ser violado, ilegal e inconstitucionalmente.

    • Agradeço o comentário. Há vários países com vários idiomas oficiais, como Espanha, Bélgica, Reino Unido, Finlândia, Suíça, etc. encontrar um país verdadeiramente monolingue é difícil. Quanto ao “português de Portugal”, não é redundância: todos os países com línguas internacionais arranjam formas de referir as várias variedades de cada língua, diferentes mas igualmente legítimas. Se nos podemos referir ao “português do Brasil”, também podemos falar do “português de Portugal”. São variedades do português, língua internacional. Pode encontrar muitos artigos sobre este assunto neste blogue. Obrigado, mais uma vez, pelo interesse e pelo comentário.

    • Cem por cento de acordo. É acrescento uma curiosidade. O alemão só é língua da Alemanha modernamente; era a língua materna da Áustria. A Alemanha ainda hoje tem várias línguas maternas, que estão a entrar em desuso: o Hochdeutsch expulsa as Mütterdprache

    • Isso é ver o PT de Portugal como o “principal”, o que não é. Defeito típico dos portugueses. ASS: uma portuguesa.

  • O “Português de Portugal” é o legítimo, o original…Todas as outras formas de falar Português, seja no Brasil, em Angola ou Cabo Verde são variantes que devem ser aceites e não sujeitas a um qualquer Acordo, porque cada país lusófono usa a língua de acordo com as suas necessidades. Tal como os Americanos usam a língua Inglesa e a adaptam às suas necessidades, sem necessidade de qualquer AO…

    • Concordo como tudo, menos com a parte do original e legítimo: todas as formas de falar português são legítimas. E daí não haver necessidade de acordos artificiais.

    • “legítimo?” que arrogância. O PT de Portugal não é mais “puro” nem melhor do que os outros “portugueses”.

    • Não percebeu, claramente, a ironia. Estou a criticar quem acha que o basco não é muita língua a sério.

      • Não me admiro que hajam portugueses, a quem o termo se aplica na perfeição, que digam semelhante coisa. De qualquer acho o termo desadequado para aquilo que pretende demonstrar.

        • Agradeço a opinião, mas o termo parece-me perfeitamente adequado para caracterizar o tal pensamento “à bruta” de que falo.

  • Para além da Islândia, tem de ser considerada a Hungria, onde subsiste uma língua única no mundo, sem ligação com qualquer outra.
    Quanto a chamar ao galego espanhol aportuguesado, eu penso que o contrário é mais correcto – português espanholado.

    • É verdade, mas é uma língua que se entorna nos países vizinhos: é falada, por exemplo, em zonas da Roménia. Mas o húngaro é muito interessante, como o é o basco, também isolado no mundo.

    • Olha, eu pensei que o húngaro formava parte das línguas urálicas, portanto tem ligações com outras línguas (sobretudo com as obi-ugrias na Sibéria), mesmo que essas ligações hoje se limitem à estrutura da língua, já que o vocabulário mudou muitíssimo desde que os húngaros chegaram à Hungria no século IX. Porém, a Hungria não é um país monolingue. É monolingue se falarmos em línguas oficiais, mas tem 12 minorias nacionais reconhecidas. Tem ciganos que falam romani, tem alemães que falam alemão, tem eslovacos que falam eslovaco, romenos que falam romeno, etc.

  • Boa noite! Atopei-me com o teu blog agorinha…e amei! Pra falar a verdade, não entendo por que a Ethnologue inclui o asturianu. O mapa é um pouco confuso, já que lá onde é falado o dialeto sendinês põe “Asturian” e não “Asturian-Mirandese”…claro que é asturiano, mas é um dialeto do mirandês…não é lógico diferenciar neste caso (tendo sempre em mente que, aqui, asturiano é sinónimo de asturleonês). Mas no norte do concelho de Bragança, lá na região de Rio de Onor e Guadramil, acho acertado pôr asturiano. O rionorês e o guadramilês são falas astur-leonesas, portanto asturianas, de transição com o português (um português bastante arcaico, formando por exemplo a 2. Pessoa do Plural com “-des” como no galego, tipo “vós iérades” em lugar de “vós éreis”). Queria apontar também que a base do Caló Português atual não é portuguesa, e sim andaluza. O Caló Português original só sobrevive no Brasil como Caló Brasileiro (já que os ciganos portugueses foram levados ao Brasil….os calé que hoje moram em Portugal provêm maioritariamente da Andaluzia, e logo introduziram palavras portuguesas no seu caló…mas a base é castelhana).
    Parabéns pelo teu trabalho e obrigado por tentar combater a ignorância que existe para com as línguas, não somente de Portugal 🙂

  • Desculpem, mas o que se fala em Trás os Montes não é galego mas sim português do norte, com todas as suas peculiaridades. Lembre-se que o que se considera galego pelas entidades oficiais competentes espanholas(RAG, ILG) contem fonemas de influência castelhana, como a interdental “Z” e as terminações “ción”. Há que não esquecer que a língua galega é tratada como sendo uma língua à parte do português sobretudo por razões políticas, para evitar ideias e aproximações perigosas para a unidade de Espanha.

    • Claro, o que se fala em Trás-os-Montes é português. Só referi a confusão do site Ethnologue para mostrar a dificuldade que existe em traçar a fronteira dos falares rurais do português e do galego (a relação entre o português e o galego é um dos temas recorrentes deste blogue). Obrigado pelo comentário!

  • Boa tarde Sr. Marco Neves. Parabéns pelo seu trabalho e obrigado por tentar combater a ignorância que existe para com as línguas, não somente de Portugal (Joanet, 21 oct 2017).
    Com liçença. Com falamos das linguas, vou continuar escrevendo em español.
    Eu faço isso melhor do que escrever en portugués . Embora nasci muito perto de onde é falado o mirandes . Seguro que nos entenderemos!!

    En España tenemos un gran problema social derivado de las lenguas y originado por los políticos.
    Ayer en Asturias un partido político ha propuesto que el Bable (dialecto asturiano) sea lengua cooficial, es decir que se pueda y deba utilizar igual que el español, para todos los ciudadanos que vivan en Asturias. No se trata de que los asturianos aprendan su lengua, si quieren. Sería como en otros casos una imposición política, que ocasionaría muchos problemas, entre ellos la exclusión social de los que no conozcan esa lengua.
    Me hay gustado muchísimo su artículo, y me he permitido publicar en un blog en el que participo alguna vez un resumen del mismo . He publicando también el link de su blog.

    https://santiagonzalez.wordpress.com/2018/01/16/el-bable-y-su-cooficialidad/

    Entrada a las 4,42

    Obrigado

    • Aprender a todos os asturianos a falar astur-lhionés seria uma imposição política? No entanto, aprender a falar castelhano (é dizer, a língua dos castelhanos) a todos os asturianos é um facto democrático? Si senhor, aqui temos um magnífico e claro exemplo de forma de pensar imperialista. Para quem se queira inteirar, a supremacia linguística é tão democrática como a supremacia racial. Claro que para os que se sentem superiores em algo, isso da democracia é uma palavra baleira de contido.

    • O artigo lembra mais umas quantas. De todas, devemos pelo menos reconhecer a língua gestual portuguesa.

    • Talvez, mas não há um único português que não compreenda a frase que acabou de escrever. Não tome isto como uma provocação: apenas como um sinal da extraordinária proximidade entre as línguas que falamos.

    • Em Portugal existe diversas variantes, sendo em muitas se encontra igualdades como o “Galego”

    • Como bem dizia o grande Ricardo Carvalho Calero (o primeiro catedrático da história em Língua Galega), o galego só pode ser duas coisas: ou é galego-castelhano ou é galego-português. Por exemplo, você seguramente fala em galego-português, mas escreve em galego-castelhano. Ou ainda não acabou de inteirar-se de que está a usar a grafia castelhana?

      Não sei exactamente quantas pessoas somos a defender o galego reintegrado, não o sei eu nem creio que o saiba você. Mas bem seguro que são bastantes mais das que você possa pensar. E se não somos mais é porque o actual poder político castelhano-espanhol impõe essa aberrante normativa para o galego e discrimina a variante galega do português. O papel trema de tudo o que escrebam nele, assim que você e eu podemos dizer aqui qualquer barbaridade. Ora bem, quem não mente é a História da Língua. Recomendo-lhe que faça uma leitura pausada da mesma e depois reflexione sobre o que disse.

    • O galego e o português som duas variantes da mesma lingua. Isso é o que defendem as pessoas galegas e portuguesas informadas e o que nos di o sentido comum.

    • Magnífico;fantástica capacidade. Significa que o Cavalheiro conhece bem as opiniões linguistas de todos os habitantes da Galiza; daí os 15!!! Parabéns.

  • Sou do Brasil, onde tem quem acredite que fala Português, mas o que temos é um idioma crioulo de raiz portuguesa e indígenas, com acréscimos de línguas africanas e europeias (Italiano, Alemão, Frances, Espanhol e mais recente o Inglês), apesar da proibição de um certo Marques de Pombal de falar a língua geral paulista e a língua geral amazônica (nheengatu), a forma de falar permaneceu, o que torna difícil aprender a gramatica da língua portuguesa, já que não aprendemos ela em casa (a maioria pelo menos), então quando alguém que diz falar “Brasileiro” é motivo de ridicularização, me questiono se esta tão longe da realidade (ao menos temos tantos dialetos inteligíveis entre si para considerar apenas uma língua luso-brasileira, mas múltiplas).

  • Quando utiliza vocábulos como “língua”, “dialeto” e “falar”, qual o valor semântico que lhe atribui? A terminologia usada pelos Professores Paiva Boléo (“língua” / “falar” / “dialeto”) e Lindley Cintra (“língua” / “dialeto”), já não é respeitada pelos linguístas atuais? Faço a pergunta, pois estou deveras interessada na resposta dada por quem deve andar atualizado relativamente ao assunto. Ultimamente, tenho-me apercebido do seu uso aleatório desses termos, que, em nada tem a ver com o estudo que fiz da matéria ( na Faculdade). Os falares de Portugal, as respetivas características, segundo Paiva Boléo, é um estudo ultrapassado???!!!
    Grata pela atenção!

    • Sim, os linguistas actuais tendem a recusar divisões demasiado marcadas entre «língua» e «dialecto», para evitar cair na visão redutora que consiste em considerar que umas pessoas falam uma língua e outras um dialecto. Foi isso que tentei explicar no início deste artigo. Todos falamos um dialecto particular (uma variedade linguística ligada a um território), mas a divisão desses dialectos em línguas tem muito de político e faz-se sempre de forma provisória e subjectiva. Assim, por exemplo, os dialectos galegos podem ser considerados como uma língua autónoma ou como dialectos de uma língua maior a que chamamos português por cá. Depende do critério de quem está a estudar.

      Por vezes, os linguísticas socorrem-se dos termos «língua por distanciamento» e «língua por elaboração» como dois critérios para usar o termos língua. Estes termos foram criados por Kloss em 1952 (há um artigo a explicar a distinção na Wikipédia: https://en.m.wikipedia.org/wiki/Abstand_and_ausbau_languages). De forma rápida, um conjunto de dialectos como os dialectos bascos, tão distantes dos dialectos vizinhos que é impossível juntá-los no mesmo sistema, serão uma língua por distanciamento. Já as línguas latinas seriam línguas por elaboração: a partir do «continuum dialectal» que existe de Portugal à Roménia, elaboram-se normas nacionais que acabam por se impor como línguas. Na realidade, estes dois critérios misturam-se: o português foi criado por elaboração dos dialectos particulares, mas há distância linguística real entre o português e o castelhano prévia à elaboração da norma. Tudo é mais complexo do que se pensa habitualmente — e, também, bastante interessante.

      Rapidamente, para responder directamente à pergunta, reconhecendo a complexidade do assunto e arriscando um pouco, considero língua qualquer grupo de dialectos em que os falantes notem uma distinção marcada com os dialectos vizinhos, possam falar entre si para explicar alguma diferença interna usando os recursos da própria língua e, em princípio (mas nem sempre), reconheçam a existência de uma norma. Por isso, não concordo inteiramente com a divisão de línguas do Ethnologue, como disse no artigo. O mirandês é uma língua, sem dúvida, tal como o cabo-verdiano, mas tenho muitas dúvidas quanto ao minderico, ao barranquenho, etc.

      A sua pergunta-me leva-me a escrever um artigo maior sobre o assunto. Fá-lo-ei logo que possível. Para já, deixo alguns artigos em que falei do assunto:
      – Um artigo em que falo da distinção entre sérvio e croata: https://certaspalavrasnet.wpcomstaging.com/viagem-as-linguas-da-final-do-mundial/
      – O galego e o português são a mesma língua? https://certaspalavrasnet.wpcomstaging.com/o-galego-e-o-portugues-sao-a-mesma-lingua/ – Este talvez seja o artigo em que desenvolvi mais a questão.
      – Qual é a língua mais antiga do mundo? https://certaspalavrasnet.wpcomstaging.com/qual-e-a-lingua-mais-antiga-do-mundo/ (O assunto é aflorado indirectamente…)

      Veja ainda este artigo da revista The Atlantic sobre o tema: https://www.theatlantic.com/international/archive/2016/01/difference-between-language-dialect/424704/

  • Creio que falta algumas, como o Beirão, eu sendo Beirão garanto que aqui houve (e ainda há quem fale mas está se perdendo) um língua de diferença em relação ao Português, igual ou maior que o Mirandês.
    A língua pela a lógica seria o Beirão, que se dividia em duas formas (Alto e baixo beirão) e tem multipolos sotaques.
    Actualmente o que persiste é o sotaque dessa língua no Português, ou seja um língua, deixo aqui alguns exemplos:

    “O Rosmaninhal não se queixa
    De não ter moças formosas
    Subam lá acima á Idanha
    Que até as silvas dão rosas”

    “Ó Rosmanhinhal non si queixa [x = tx]
    Di non tener cachopas formossas [Ch =Tch]
    Arriban hasta lá Idanha
    Ca atei las silvas dan rossas”

    “Ela ficou sozinha.”

    “Eilla se quedou(ê) sola.”

    “A liberdade é mais importante do que o pão.”

    “Lá lleiberdadi ei(ê) ma(i)ze ínportanti dô qui ó pan.”

    “Não direi:
    Que o silêncio me sufoca e amordaça.
    Calado estou, calado ficarei,
    Pois que a língua que falo é de outra raça.”

    “Nã derei(ê)
    Ca ó silẽinço me esgana e amordaça. (ç = ts)
    Callado stou(ê), callado quedarei(ê).
    Poés ca lá lleingua ca paleio(ê) ei(ê) di ótra raça (ç = ts)”

    “Ele quis um chapéu preto.”

    “Eill(e/i) qu(e)izo ũu chapéo preitu. (CH = TCH)”

    “E depois nós fomos dalí para aqui. ”

    “Ò depois cá fôramos alá di p’ra cá.”
    (Este seria um expressão desta zona)

    “Olha uma coisa ali”

    “Mira ũa cousa alá”

  • Artigo muito interessante sobre um tema que tenho tentado entender ao longo dos anos. É no entanto uma questão sensível, em que até num nível muito específico continua a ser discutível…
    Por isso mesmo creio que será sempre uma questão de opinião. Aqui fica a minha, esforçada, devido a toda uma falta de conhecimento linguístico… Espero não ofender ninguém, pois não tenho qualquer intenção de tal 🙂

    Sobre o galego e o português, como alguém disse muito bem, o termo galaico-português só pode ser atribuído depois da existência de Portugal e, certamente, os galegos já antes falariam alguma forma arcaica/medieval!
    Visto pelo ponto de vista da história, Portugal nasce a partir da Galiza. Assim sendo, a meu ver, o português é um ”filho” do galego sim…
    E é preciso não esquecer a evolução das línguas ao longo dos séculos. O galego foi ”evoluindo” (a bem ou forçado) com influência do castelhano. Enquanto o português foi-se afastando progressivamente do castelhano. (Tal como o castelhano se foi afastando)
    Acho extremamente curioso ver a proximidade existente nos textos do final da idade média/princípio da moderna
    Tal como acho extremamente curioso que as línguas castelhanas/espanholas da América mantenham uma infinidade de palavras que também usamos no português, quando ”aqui ao lado” já não as compreendem!

    Ainda nunca consegui perceber as diferenças do asturiano para o leonês e a influência no galego…
    Pelo ponto de vista da história, em teoria, tudo isto teria partido das Astúrias e ter-se-ia expandido na direcção de Leão e da Galiza…
    Mas essa história ainda está muito mal contada, pois continua a assumir todo um despovoamento no norte, entre a chegada dos árabes e o início da reconquista… Que mais parece mitológico que com qualquer ponta de realidade… Não percebo de linguística mas não haverão diferenças suficientes entre o asturiano e o galego (nas versões mais originais possíveis), para se crer que já vinham de antes da entrada dos árabes na península??

    Quando comecei a pesquisar sobre o assunto deparei-me com uma definição de ”fala” para os dialectos do Sabugal. (Penso que tem outro nome do outro lado da fronteira)
    Certo ou errado (ou talvez no meio), concluí que derivavam de alguma vertente de leonês que se manteve por ali… Já estive nas terras do Sabugal e também nas da Sierra de Gata e realmente, fala-se algo bastante único por ali!!!

    O mirandês parece-me ser outra variante do leonês que se aguentou ao passar dos séculos!
    Acho fascinante como estas questões culturais/linguísticas se conseguiram aguentar 🙂

    A questão de Barrancos é bastante diferente…
    Há uns anos dei uma olhada ao Filologia Barranquenha de José Leite de Vasconcelos
    Tenho também uma forte ligação familiar a Santo Aleixo da Restauração onde vou várias vezes por ano. A terra portuguesa mais próxima de Barrancos!
    Sinceramente… (já tentei avaliar a questão com uma ex-namorada espanhola) os barranquenhos parecem-me completamente bilingues mas sem dialecto próprio…
    José Leite não defende bem isso… e provavelmente terá razão.
    A meu ver, fala-se algo com muita influência espanhola sim… mas muitos desses termos espanhóis também estão presentes em Santo Aleixo, tal como a pronuncia, sem que alguém se lembre de pensar que não é português…
    As terras raianas têm sempre influência do outro lado da fronteira… Mas nem o português de Barrancos me parece diferente nem o espanhol de Barrancos pareceu diferente à rapariga espanhola, que o considerou perfeito…
    De referir que as conquistas do reino de Leão alcançaram a zona de Barrancos (em Espanha temos topónimos como ”Fuentes de Leon” ou ”Segura de Leon”). Será relevante para a questão?

    Em Olivença ouvi alguém falar algo que não me parecia espanhol/castelhano ”comum”… Sempre ouvi falar de um dialecto oliventino… será real?

    De Minde tenho uma história antiga de família, em que acabaram vendendo duas mantas a dois familiares como se fossem diferentes. No final eram iguais, mas tiveram preços diferentes!!
    E por isso mesmo sempre fui ouvindo da parte da família que falavam uma coisa estranha que ninguém entendia… Para ver se enganavam a malta eheh
    Acredito que haja por lá um dialecto, embora ainda não tenha tido oportunidade de o escutar

    Obrigado a quem descreveu o ”beirão” de forma tão explicita!!
    Desconhecia totalmente… E parece também ter diferenças suficientes para o português ”comum”. A meu ver, tem aí o suficiente para talvez ser um dialecto

    Também passei por Rio de Onor há uns anos… Onde verifiquei a mesma coisa que em Barrancos!
    Mas o português com que me falavam era demasiado português… Talvez por eu ser da zona de Lisboa… Será que não cheguei a ver ninguém a falar ”localmente”??

    É-me complicado entender até que ponto uma língua evolui imenso e se afasta da original mas se mantém a mesma. Gosto de achar que no Brasil, Cabo Verde, Angola e afins se fala português… Mas dentro desse ponto de vista, não falaríamos todos galego???

    Enfim… é uma questão sensível e discutível em muitos pontos…

    O País Basco e a Húngria são outras questões que me fascinam há muito.
    Os Bascos porque me parecem os inequívocos originais da península! Bom, inequívocos originais é muito relativo… Mas em comparação com todos os presentes na actualidade, são inequívocos sim!!
    De onde vem aquela língua e cultura?? Gostava realmente de saber mais sobre os Bascos…

    O húngaro que eu saiba pertence ao grupo fino-úgrico… o que os coloca no mesmo grupo dos finlandeses e dos estónios (já me disseram que foram os estónios que levaram a língua para a Finlândia, mas não confirmei)
    Alguém referiu os Urais e penso que é mesmo isso… Os húngaros/magiares vieram do outro lado do Cáspio nas ditas invasões bárbaras
    É outro povo que me causa alguma admiração. Chegaram, instalaram-se e lá ficaram até hoje! Apesar das diferenças para com a vizinhança, que provavelmente lhes deu inúmeros problemas ao longo do tempo…

    Por fim gostava de referir que há mais línguas não indo europeias aqui próximas, embora pouco referidas..
    Salvo erro há uma no sul de França, 2 ou 3 em Itália e talvez mais umas quantas!
    Não é só o basco!
    Não me recordo se eram inseridas em algum grupo mas penso que estão como o basco, sem ligações identificadas.

    Obrigado ao autor e aos comentadores!! Peço desculpa pelos meus eventuais e prováveis erros…
    Por outro lado penso que também acrescentei algumas coisas

    Aprendi bastante aqui! Um bem haja a todos 🙂

    • Eu, como barranquenho (agora a escrever e a pensar em português, como trilingue que sou) posso referir-lhe que quando lá voltar (e é muito bem-vindo) peça a um barranquenho para falar consigo em português e ele irá fazê-lo como bom português e acolhedor que é (possivelmente com uma pronúncia característica), peça a um barranquenho para falar com a sua amiga em castellano e irá fazê-lo correctamente com pronúncia andaluza. Mas entre dentro de uma casa ou oiça os miúdos na rua a brincar e ouvirá falar barranquenho. Já agora, recomendo a mais recente bibliografia do meio académico sobre o assunto. Bem haja!

  • Senhor professor Marco Neves,

    Só há relativamente pouco tempo tive o prazer de o conhecer, pelo “Dic. dos Erros Falsos…”.

    Ao consultar um dos seus blogues reparei que utiliza a expressão “tem a ver…”, tão comum nos falares portugueses que raramente se ouve e se vê escrito “tem que ver…”.

    A primeira expressão, embora presentemente com uso intensivo (tão intensivo quanto empobrece o nosso idioma, pelo obstinado esquecimento de outras expressões equivalentes), já, por vezes, atestada há longas dezenas de anos, não me parece a mais correcta. Presta-se mesmo, na oralidade, à pronuncia temh(á)ver. Neste sentido lembro-me, há cerca de vinte anos, de um antigo colega me perguntar se “tem a ver” se escrevia com (h) – do verbo haver. Aliás, o modo como correntemente se escreve induz muitos dos falantes, à elisão do (a) visto este soar anteceder o (h) mudo de haver.

    Gostaria de saber da sua douta opinião, neste propósito, muito embora o tema não tenha qualquer relação com os tratados acima.

    Agradecido.

  • Senhor professor Marco neves,

    No âmbito do nascimento do português como língua autónoma, mas oriunda do galego,
    terá algum comentário sobre o livro do professor Fernando Venâncio “Assim nasceu uma língua”? É uma tese do desenvolvimento do português, com origem no galego.

    Não tenho opinião própria, por simples ignorância; todavia, deste tenra idade me foi ensinado que o português deriva do latim. É verdade que nem tudo o que aprendemos está inteiramente correcto. Mas neste caso, fico com a ideia de que o português evoluiu do latim por via galega e esta provavelmente com forte contributo visigótico. Mas é uma possibilidade que o prof. Fernando Venâncio não esclarece naquele seu Livro.

    Agradecido.

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