Certas PalavrasPágina de Marco Neves sobre línguas e outras viagens

Aventuras de portugueses na Galiza

Começo pela multa que apanhei? Ou pelo homem que acha que o desenrascanço é espanhol? Talvez pelas conversas à mesa? Ou pelo velho galego que tinha Lisboa na cabeça?

A semana passada, andei uns dias a falar d’A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa em várias cidades da Galiza: Pontevedra, Lugo, Ferrol e Santiago.

Bem, não será bem «andei»: será mais propriamente «andámos»! Sim, porque fui com a minha mulher e o meu filho (que no final da semana já não estranhava nada conversas entre portugueses e galegos) — e estivemos sempre rodeados de boa gente. (Ah, não me posso esquecer que, no primeiro dia, os meus pais deram um saltinho a Pontevedra — que a Galiza é já ali.)

Foram dias muito intensos, com muita conversa e muitos quilómetros. Aprendi muito, claro está. Aprendi, por exemplo, o que são as Escolas Oficiais de Idiomas, escolas públicas onde adultos aprendem línguas estrangeiras — algo que não existe em Portugal. Foi em três dessas escolas que falei — e terminei a tour na livraria Ciranda, em Santiago de Compostela (estas as palavras com que o José Ramom Pichel apresentou o livro). As conversas duraram todas por volta de duas horas, mas passaram num instante — e continuaram à mesa. Foi um prazer.

Pergunto agora: quantos portugueses saberão que há milhares de galegos a aprender português à noite? E quantos adivinhariam que tantos galegos iriam querer falar da língua portuguesa pela noite fora?

Foi muito bom.

Que língua é esta?

Um dos temas de que falámos nas sessões foi a dificuldade que muitos portugueses sentem em distinguir o espanhol do galego. Muitos alunos, que estão a aprender português durante anos, queixam-se disto: chegam a Portugal e, falando galego ou mesmo o português aprendido nas tais Escolas Oficiais de Idiomas, recebem respostas em espanhol.

Em Ferrol, por exemplo, ouvi a incrível história do galego que foi a Portugal e esteve 10 minutos à conversa com um português — com o português a falar espanhol e o galego a falar português.

Mas, enfim, é verdade que um galego a falar galego sem tentar imitar o nosso sotaque vai encontrar uma imensa maioria de portugueses que ouve a língua e a enfia no saco do espanhol. Nós conhecemos bem os vários sotaques da nossa língua, conhecemos o português do Brasil, sabemos até ao que soa um estrangeiro a falar português — mas o galego, por mais próximo que esteja (e está!), não o conhecemos desde crianças. Não estamos habituados. A distância que sentimos tem mais a ver com essa barreira do desconhecimento do que com a distância real entre galego e português.

O sotaque é o suficiente para nos marcar a língua como espanhol, apesar de, se ouvirmos com atenção, repararmos nos artigos tão nossos («o», «a», «os», «as»), nas palavras que nos soam tão próximas, as frases que, na escrita, são percebidas como português ou, pelo menos, português escrito à espanhola.

Sim, eu que tenho esta pancada das línguas, acho que consigo distinguir bem as línguas latinas próximas. Cada um tem as suas manias, não é verdade? Mas também eu me confundo. Não sei se hei-de contar o que se passou… Afinal, portei-me mal.

Será que conto? Será que não conto?

Conto, sim.

Um guarda civil a falar galego

Ora, a certa altura, andava eu contente a conduzir e a conversar pelos verdes campos que vão de Compostela a Lugo, quando vejo um carro a atravessar-se à frente do meu e a pedir-me para fazer o favor de parar à força de sinais de luzes e um imponente «PARE!» no vidro de trás.

Fiquei imediatamente de boca aberta e mãos suadas. O guarda apareceu, simpático, e informou-me que tinha passado por uma zona de 70 km/h à louca velocidade de 90 km/h. Assenti com a cabeça, balbuciei qualquer coisa, fiquei a saber que, «por ser português», teria de pagar ali mesmo 50 euros.

O guarda afastou-se para preencher os documentos e, ao meu lado, o José Ramom Pichel vociferava contra a sorte que nos calhara, secundado pela Zélia.

Eu encolhi os ombros, mas perguntei ao José que história era aquela do «por ser português». Ele também não sabia.

Percebi depois — enquanto os dois guardas, simpáticos, me mostravam a foto do crime — que, por ser estrangeiro, tinha de pagar 50 euros de imediato. A diferença não era o valor, mas o facto de não poder sair dali sem pagar. Respirei fundo: por momentos pensei que Espanha tivesse multas só para portugueses.

Mas porque conto isto aqui? Só por isto: o José Ramom Pichel disse-me, depois, que tinha sido a primeira vez que tinha visto um guarda civil, em serviço, a falar galego. Aliás, o carro que foi multado à nossa frente era de galegos e tudo se passou em espanhol. Pois eu fui multado em galego, «por ser português».

A confissão: eu, nervoso e atrapalhado, não percebi em que língua fui multado. Até eu, louco por estas questões, troco-me todo nisto das línguas próximas se estiver ao lado dum guarda civil.

(O Simão dormia mas, quando soube que tinha sido multado, ralhou comigo.)

A aluna que não sabia o que estava a ouvir

Em Ferrol, tive uma surpresa: apareceram-me lá dois antigos professores de galego da minha faculdade, o Emilio Cambeiro e o Isaac Lourido. O Emilio, no fim, contou-me como uma aluna da FCSH, há uns anos, bateu à porta do gabinete e pediu a medo para falar com ele, mas avisando que não percebia espanhol.

Ele lá lhe explicou que podia falar em galego… E ela assustada, dizia que não, que não percebia nada disso. Ele lá lhe disse que também podia falar em português. Ela sorriu e disse que sim. E lá conversaram durante meia-hora, sem problema nenhum, até ele lhe dizer que tinha estado a falar galego. Ela, peremptória, disse que não, que aquilo era português. Ele insistiu: não! Era mesmo galego…

Também me lembrei do pai da Zélia que, há uns anos, nos disse que, na Televisão da Galiza (que ele vê com gosto), apareciam uns velhotes a falar português. Já aqui contei essa história — mas trago-a de novo para este texto só para vos dizer que, por mais diferenças que se tenham acumulado por várias razões, ainda há gente a falar galego que os portugueses reconhecem como estando a falar a sua língua. E isto é tanto mais espantoso quanto é verdade que desde sempre aprendemos que os espanhóis falam espanhol e ponto final. Nós, portugueses, povo monolingue (dizem, embora não seja bem verdade), não vemos essas complicações. E mesmo assim o som dum velhote galego a falar ou dum professor que nos tenha dito antes que ia falar português e depois desata a falar galego confunde-nos. Sim, o galego deixa-nos zonzos, porque é tão próximo e, mesmo assim, estranho. Mas depois, claro, entranha-se, como dizia o outro.

(Esta ideia do estranhamento e do entranhamento fui buscar ao texto que Maurício Castro escreveu sobre a sessão em Ferrol.)

A fronteira e o conforto

Bem, indo para lá da língua. Todos sabemos que a fronteira tem a sua importância. A raia divide-nos e já divide há muito tempo. A nossa identidade é portuguesa e não se dilui nem se confunde com as múltiplas identidades galegas. Temos etiquetas diferentes. E há também isto: quando passamos uma fronteira, começamos de imediato a ter atenção às diferenças. A fronteira muda-nos o chip e o que vemos passa a ser espanhol no nosso cérebro. Logo, passa a ser diferente. Reparem: um português que fosse teletransportado num segundo de Santiago para Toledo (por exemplo) veria as diferenças óbvias entre a Galiza e o centro de Espanha e reconheceria que muitas dessas diferenças não existem entre a Galiza e o Minho. Mas um português que vá de carro de Santiago a Toledo nunca passa uma fronteira que saiba reconhecer — logo, não nota as diferenças. Quando passa de Valença para Tui, tem ali as placas a gritar: agora, isto é Espanha. E o nosso cérebro está bem treinado nisto das fronteiras.

Mas a verdade é que uma coisa é a identidade política ou nacional, outra é o conforto cultural que sentimos em certos locais. Como vários galegos me disseram, os galegos podem assumir a sua identidade espanhola (há excepções, claro), mas quase todos se sentem muito confortáveis em Portugal, esse país estrangeiro que está tão próximo — sentem-se bem mais confortáveis do que em certas regiões de Espanha. Esta sensação de conforto não põe em causa a identidade nacional que aprenderam desde crianças: é apenas a realidade das coisas e a realidade dos hábitos e da paisagem que sentimos à nossa volta.

Dizem-me também, claro, que esse conforto é especialmente forte quando estão no Norte. O Sul, com as suas planícies e as suas vogais desaparecidas, é um pouco mais agreste para um galego viajante.

Isto dizem-me os galegos. Já nós, portugueses, reconheçamos ou não as línguas que por lá se falam (e a mistura é tanta que é de facto difícil), também nos sentimos confortáveis na Galiza. Pronto, sei que é exagerado falar nos portugueses em geral. Atrevo-me então a dizer apenas isto: estes três portugueses que por lá andaram sentiram-se confortáveis e muito bem recebidos.

A Galiza tem isto: é tão próxima, mas não deixa de ter as suas diferenças, as suas surpresas. Os telhados negros de Ferrol, por exemplo, ou os nomes dos pratos… Estas diferenças misturadas com uma proximidade estranha provocam-nos e fazem-nos sair do que nos é habitual para depois reencontrar, a cada esquina, qualquer coisa que sentimos como nossa. Ora, sair do nosso país para saber mais sobre nós — haverá melhor definição de «viagem»? Conto dois episódios: o velho que sabia Lisboa de cor — e o famoso desenrascanço… espanhol!

O galego que sabia Lisboa de cor

Numa das manhãs desses dias, fomos os três visitar a Catedral de Santiago. Não há muito a dizer, basta encontrar fotos, não é? Bem, a certa altura um velho galego chega-se ao pé de nós e oferece um pequeno santinho ao Simão — ouvira-nos a falar português e ficou contente. Começou então a dizer, em português, que conhecia bem Lisboa. Começou então a desfiar os vários nomes dos bairros e zonas de Lisboa: «Saldanha», «Cais do Sodré», «Alfama», «Benfica»… Aí, parou e perguntou o clube ao Simão — depois continuou pelo mapa fora… Estávamos já a afastar-nos dele, para não incomodar mais a fila de turistas atrás de nós, e ainda ouvíamos da boca sorridente do velho os nomes (agora já fora de Lisboa): «Carnaxide», «Oeiras», «Cascais»…

Ele ficou felicíssimo por falar de Lisboa — e por falar com portugueses. E nós felizes ficámos, depois de passar pela surreal experiência de caminhar pela Catedral de Santiago, por baixo de imponentes órgãos e turíbulos fumegantes, a ouvir alguém a gritar: «Cruz Quebrada!», «Bobadela!», «Picheleira!».

O desenrascanço é espanhol? Ou será galego?

Nisto das diferenças e semelhanças… Durante aqueles dias, tinha o carro num estacionamento ao pé do sítio onde ficámos. Numa das noites, não consegui entrar com o bilhete de vários dias que tinha comprado. Tive de tirar o ticket habitual e fui à cabine pedir para resolver o problema (não queria ter de pagar duas vezes, já bastavam as multas).

O homem riu-se porque, pelos vistos, é habitual — testou o meu bilhete, viu que afinal estava bom. Agora, só era preciso convencer o sistema que eu tinha entrado com o bilhete certo. Ele pega num pedaço de metal, vai à cancela de entrada no estacionamento, põe o meu bilhete, vê a cancela a levantar-se, passa com o pedaço de metal no sensor — e a cancela lá baixa, convencida que eu tinha acabado de passar com o meu carro.

O homem riu-se, contente, e disse-me: «Isto é resolver problemas à espanhola!»

Eu ri-me também e lá lhe fui dizendo que também era assim que resolvíamos os problemas em Portugal. Até temos uma palavra, não é verdade? O famoso desenrascanço… Imagino que alguns leitores estão já a correr para ir buscar o mosquete que têm debaixo da cama, a pensar que até o desenrascanço os espanhóis nos querem conquistar! Bem, descansem: este é um desenrascanço muito galego

Neve em Santiago

Já aqui contei como nunca vi nevar em Portugal (e não foi por falta de tentar). Neve já vi na Serra da Estrela. Mas nevar, o verbo, só vi na Galiza e em Inglaterra.

Pois, mais uma vez o feitiço se confirmou: vi nevar em Santiago e vi nevar na auto-estrada entre Ferrol e Santiago. Foi também ali, na Galiza, que o Simão viu nevar pela primeira vez.

Mas, nesse percurso nocturno de auto-estrada debaixo duma espécie de nevão, lembrei-me daquele velho mito de que os esquimós têm não sei quantas palavras para descrever a neve — e que, supostamente, isso tem um impacto profundo na sua visão do mundo. Não é bem assim… Como McWhorter explica bem em The Language Hoax, a verdade é um pouco mais banal e ao contrário: é a visão do mundo que tem um impacto profundo na língua de cada um… Pois não é curioso que sejam os esquimós a ter tantos nomes para a neve?

Enfim, a verdade é que essa ideia de que a língua nos limita o olhar é um pouco exagerada. Nós, que certamente não temos muitos nomes para neve, conseguimos ver claramente as diferenças entre os flocos que nos caem no carro. Ou seja, não precisamos de palavras diferentes para perceber as diferentes neves. E, de facto, nessa viagem, vi neve grossa, quase granizo, outra neve mais leve, a cair levemente, como quem chamava por mim, uma neve misturada com chuva que se tornava mais branca ou mais transparente conforme o quilómetro… A natureza parecia querer brindar-me com uma demonstração em cinco minutos de todos os tipos de precipitação. Eu agradeci, mas, a certa altura, a coisa começou a aquecer, que é como quem diz, a arrefecer. Teria de parar o carro? A Zélia, o Simão e eu lá seguíamos calados, cansados e felizes, mas um pouco preocupados. Por fim, chegámos bem, a neve foi meiguinha. (Ah, sim: os esquimós, foi-se a ver, e não tinham assim tantos nomes para a neve.)

Tudo isto para vos dizer que continuo convencido de que as línguas não representam «a alma dum povo»: sim, conseguimos descrever muitos conceitos que são importantes para nós usando uma só palavra, mas para lá desse facto banal, não somos assim ou assado por causa das regras da nossa língua, que devem muito mais ao acaso dos milhões de conversas ao longo dos séculos do que a qualquer alma nacional depurada em livros de gramática.

Mas — e isto é importante — a nossa língua é uma casa onde nos sentimos bem, onde conversamos, onde lemos e escrevemos, onde vivemos com todos os que falam essa mesma língua. E não há dúvida que, na Galiza, nos sentimos em casa quando falamos da nossa língua.

Imensos amigos

Íamos a chegar a Santiago numa destas noites, quando encontro alguém que conheço: o Suso. Cumprimentamo-nos pela janela do carro, alegres pelo encontro imprevisto. Quando fecho o vidro, o Simão está baralhado, pois não está habituado a que encontremos pessoas conhecidas tão longe de casa.

— É nosso amigo?

— Sim, é.

Fez um grande sorriso e disse:

— Nós temos imensos amigos!

E, sim, ali na Galiza senti-me entre amigos — e isso foi o maior prazer deste cirandar pela Galiza a falar de livros e línguas. Obrigado a todos os professores e alunos que me receberam e a todos os leitores que foram à Ciranda. E ao José Ramom e à Sabela, que nos receberam tão bem, e ao Valentim, que organizou a loucura que foi esta semana: muito, muito obrigado!

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Autor
Marco Neves

Professor na NOVA FCSH. Autor de livros sobre línguas e tradução. Fundador da Eurologos.

Comentar

25 comentários
  • O meu comentário será talvez ridículo no contexto do seu artigo. Mas… O seu segundo parágrafo começa com “A semana passada, andei uns dias, etc. Não será “Na semana passada…”? É uma dúvida que tenho há muito tempo porque só vejo escrito “A semana…” e confesso que me choca. Dizemos, por exemplo, Na 2ª Feira passada sem retirarmos o n.

    • Cara Isabel, obrigado pela pergunta. Na verdade, o português europeu admite o uso de um sintagma nominal com valor adverbial. Podemos ler na Gramática da Língua Portuguesa, Caminho (pp. 166-167): «A expressão de adverbiais de tempo é extremamente variada, podendo ser explicitada através de advérbios de tempo, de sintagmas preposicionais e também de sintagmas nominais.» (Encontrei a citação neste artigo que dá também exemplos de uso em autores da língua: https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/expressoes-nominais-com-valor-adverbial/25161.) Encontramos esta construção sem preposição em grandes autores da língua — e foi assim que a frase me pareceu mais natural. Mas, claro, sei que há construções que nos irritam mesmo quando são aceitáveis na gramática da língua. Espero que, mesmo assim, tenha gostado do resto do texto. 🙂

      • Claro que gostei do texto. Daí começar por dizer que o “meu comentário será ridículo no contexto do seu artigo. Por outro lado, obrigada pela sua resposta. Para mim foi elucidativa e útil e, sem o querer ofender ou criticar, continuarei a usar “Na semana passada…”.

        • Claro! “Na semana passada” está correctíssimo. São duas opções válidas, neste caso, ao nosso dispor para cada frase.
          Obrigado pelo interesse e espero que volte aqui ao blogue. Até breve!

          • À Senhora Isabel Belo agradeço a pergunta, ao Prof. Marco Neves, a resposta. Ambas as coisas foram-me úteis.

    • Comprei esse livro precisamente na Ciranda, quando lá fui apresentar o livro. Espero falar desse livro daqui a uns dias 🙂

  • “E não há dúvida que, na Galiza, nos sentimos em casa quando falamos da nossa língua.”

    E non hai tal dúbida… as diferenzas que hai entre as linguas a día de hoxe son máis políticas ca reais… a Real Academia Galega da Lingua gosta moito de crear unha lingua sintética que pouco ten ca ver co que falaban os nosos avós (avôs en português).

    A un português soalle moito máis “romántica” a lingua galega e é lóxico… o galego estuvo prohibido moitos séculos e quedou con cousas do pasado… vexase castelán~castelhano auga~agua o uso do -che en vez de ~te en moitas situacións….

    Na escrita son moi parecidos… so que o galego ten ortografía case castelana e emprega moitas máis palabras castelanas galeguizadas.

    O final, é que con un pouco de práctica e ter claros os falsos amigos… ambas linguas séntese do mesmo xeito… ou jeito? ja!

    • É avós em Portugal também.
      Tenho pena do galego. Foi proibido demais por, ironia, um galego chamado Franco. Depois, foi castelhanizado como sei lá o quê. Já em democracia.

  • “Aprendi, por exemplo, o que são as Escolas Oficiais de Idiomas, escolas públicas onde adultos aprendem línguas estrangeiras — algo que não existe em Portugal.”

    Entom; se quigeres aprender italião, chinês, japonês, alemám… calquer língua, como fas? Onde a aprendes?

    • Ou em escolas privadas ou, se existirem, institutos criados pelas universidades. Por exemplo, a minha universidade tem o ILNOVA (http://ilnova.fcsh.unl.pt/). No entanto, não é uma rede pública: são sempre iniciativas privadas ou pontuais por parte de universidades públicas ou privadas.

      A maior parte dos portugueses aprende inglês e francês (ou ainda alemão ou espanhol) na escola, antes da universidade.

      • Bom, isso tamém ocorre na Galiza. Dende os 3 anos; já estás estudando castelão, galego e inglês. O francês começa-se a aprender cando chegas a 1ºESO.
        Ora bem, o que aprendes d´inglês e francês… digamos que é um nível básico, nom é algo que vaia moi aló. Ou tiveche a sorte de ter um bom professor ou, se realmente quigeres aprender esses idiomas, necessitarias ir às Escolas Oficiais d´Idiomas. Isso si, o castelão e o galego sabemó-lo a perfeiçom. E que se nom o sabes… e coma se um português nom soubesse português. Imaginá-lo?

  • Acabo de lembrar dũa etapa da Volta a Portugal do ano passado. Penso que no final da quarta etapa um jornalista da RTP entrevistou ao pai do Gustavo Veloso. Num momento da entrevista, o pai disse-lhe que nom lhe entendera e se podia repetila pergunta. Nom é que nom entende-se o português, simplesmente nom tinha prática. Eu, nessa altura, tinha certas dificuldades pra entender ao jornalista. Mais isso ocorreu porque tinha pouco prática co vosso sotaque, case nunca o tinha escoitado. Hoje penso que nom teria problemas pra entender ao jornalista da RTP. Imagina que aos portugueses lhes passara ũa cousa parecida. Nom é problema de léxico, vocabulário, sintaxe… simplesmente, é um problema de prática. Nom estades afeitos ao nosso sotaque. Mais se conseguirdes estar habituados a escoitalo nosso sotaque, tanto como o estades pro brasileiro; entom descobriredes que há ũa parte da Espanha na que se fala a vossa língua.

    • A TVG está na televisão por cabo, quase todos podemos vê-la, se quisermos, mas não é muito conhecida…

      • Pois entom sodes ũus privilegiados.
        Na meirande parte da Galiza nom temos esse privilégio. Simplesmente, pra poder velas canles portuguesas; tens de recorrer à Internet. Penso que, por satélite, tamém se podem ver a TVi e a RTP internacionais. Mais som apenas duas canles e bem sabes como é o conteúdo das internacionais. Basicamente, podemos ver mais canles inglesas ca portuguesas.

      • Bom, eu tampouco vejo moito a Galega. Apenas algũus programas (coma o Telejornal ou o tempo). A Galega tem algũus excelentes programas: Land Róber, Serramoura, Luar, Bamboleo… (perdom pola publicidade)

  • Obrigado pelo artigo, Marco. Sempre e um grande prazer a leitura dos seus textos. E obrigado sobre tudo por fomentar a cultura e a amizade entre os nossos povos. Abraço forte

  • Encantou-me este artigo, porque a Galiza também me encanta e ainda mais a sua língua que sempre me soou familiar.
    Obrigada

  • Olá! Hola!
    Uma pequena historia:
    Numas férias no sul de Espanha (La Manga), eu e um amigo demos voltas e voltas num supermercado à procura de palitos. Como os ditos não apareciam, resolvemos perguntar a uma funcionária em bom português porque em castelhano não sabiamos como se dizia palitos. A menina não conseguia entender-nos! Até que usamos a linguagem universal do gesto… A menina percebeu logo e passa-nos de imediato a informação “palillos”.
    Ficamos vezes sem conta a tentar dizer essa palavra, mas, embora nos parecesse que a diziamos na perfeiçao, a menina nunca nos aprovou o sotaque…
    Anos mais tarde, em Baiona-Galiza, tentamos fazer um brilharete. Num restaurante, pedimos palillos em bom castellhano (pelo menos para nós era bom), não tivemos exito! Outra dificuldade de comunicação, voltamos à velha linguagem e recebemos com admiração a resposta “palitos”.
    Mau! Assim não nos entendemos. O empregado explicou: Palitos cá em cima, palillos lá em baixo.
    Respondemos em tom de brincadeira: “Nosotros somos de Murcia…”
    Cá está: Aventuras de portugueses na Galiza

  • Eu estivem lá em Ferrol, na EOI e gostei muito da palestra, mesmo chegara a fazer uma pergunta ao final. Quando já saía decatei-me que esquecera o para-chuvas e voltei por ele. E estávades na porta do salão de actos charlando e saudache-me, não sei se lembras.

    Desde aquela a vida só me tem confirmado a realidade destas questões das que costumas falar e os reintegracionistas temos como teima. Chegamos a alugar uma casa na região norte de Portugal, no rural, na zona onde é cultivado o vinho verde (ainda vou viajar ali estes dias para estar com a minha esposa e filhos), e como bons galegos compramos no Pingo Doce e falamos com os vizinhos do quintal, do tempo atmosférico e o “Corona”… e de quando em vez sobre os Reis de Espanha e os seus escándalos.

      • Artigo encantador! Muito grato, Marco Neves. A Galiza e o galego também encantam-me muito. Aqui do Brasil quase todas as noites assisto programas e canais da Galiza. Algo liga-me à Galiza e ao galego o qual não sei explicar!

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